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domingo, 1 de maio de 2016

Uma tradição centenária!

Matéria do Jornal Lince retratando o Jongo de Tamandaré

O jongo é uma prática ritual que remonta ao tempo dos escravos africanos no Brasil. Praticado desde, pelo menos, o século XIX, conforme atestam registros históricos, temos sua presença ainda hoje em determinadas localidades da região sudeste brasileira (Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo). 

Neste artigo, iremos conhecer um pouco mais do jongo que é praticado no bairro Tamandaré, situado no Município de Guaratinguetá-SP, a 163 Km da capital de São Paulo e a 237Km da capital do Rio de Janeiro, fazendo divisa com os municípios de Pindamonhangaba, Potim, Aparecida, Lagoinha, Cunha, Lorena e Piquete, compondo o complexo do Vale do Paraíba Paulista. 

O bairro Tamandaré possui pouco mais de dez ruas cuja via principal é a Rua Tamandaré por onde passam, obrigatoriamente, todos aqueles que entram ou saem do bairro, não havendo outra entrada ou saída que não seja esta rua. Uma rua comprida que se inicia próximo ao terminal rodoviário de Guaratinguetá e se estende até próximo ao Bairro dos Motta (zona rural do município, também conhecida como “roça”), e sobre a qual atravessa a Via Dutra. Esta rua comporta a maior parte dos jongueiros do bairro, embora outros estejam localizados nas ruas menores. 

O citado Bairro dos Motta é importante, pois àquele lugar é atribuída a origem do jongo no Tamandaré que, na narrativa dos jongueiros, se deu através de negros migrantes. O casal de negros libertos Henrique Martins e Angelina Martins é tido na memória dos moradores do bairro como o casal que trouxe o jongo para Guaratinguetá há quase 150 anos atrás. Suas netas, Dona Mazé e Dona Fia, são quem contam a história . Versão que é endossada por outros moradores no bairro.

Contando a origem do jongo em Guaratinguetá, Dona Mazé diz que:

“Eles (seus avós) depois de libertados vieram e ganharam (uma imagem de) (...) São Pedro e meu avô comprou um sítio lá no Bairro dos Motta. Aí ele começou a fazer a festinha do jongo lá no sítio dele. Ele vinha aqui na Boa Vista , pegava todo mundo e levava pro sitio dele.

aí ele fazia a festinha lá, todo mundo ia, bebia lá, comia lá, ficavam lá. No outro dia é que vinham embora. Daí eles ficaram demais velhinhos né, vieram embora pra casa da minha mãe e do meu pai (na Rua Tamandaré) e faziam o jongo. Daí eles pediram, ‘_ Ah! Não deixa a festa morrer!’, né! ‘_ Enquanto existir uma pessoa da família, não deixa a festa morrer, nem que seja só a reza vocês fazem!’. Então nós pegamos e continuamos. Por enquanto, enquanto a gente tiver força e saúde nós vamos continuar com o jongo”.

A fala de Dona Mazé aponta o bairro dos Motta, a roça, como um espaço privilegiado da festa de jongo no passado. 

Não apenas o jongo, mas outras festas são mencionadas pelos jongueiros quando se referem àquele espaço:

“Meu pai mesmo, nunca foi de dançar muito jongo não. Ele gostava mesmo era de cana-verde que ele fazia lá na roça. Cana-verde é bom, rapaz! É que nem repente que a gente faz. E tinha uns dançadores bons de cana-verde viu, mas que hoje já morreram tudo. Eu era moleque quando ia com meu pai que morava na roça. Porque eu nasci aqui na Tamandaré, mas meu pai morava na roça e quando eu ia lá, rapaz, eu via eles na cana-verde e eu aprendi”. 

A festa de Santa Cruz , tão expressiva no interior paulista, também se faz presente na memória dos jongueiros do Tamandaré. Como a cana-verde e o jongo, a festa de Santa Cruz, segundo os jongueiros, se localizava na roça.


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