Naturalmente Capoeira trará informações baseadas na cultura popular brasileira.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

A arte de celebrar a vida!

Iniciaram as vendas do livro, CAPOEIRA: A ARTE DE CELEBRAR A VIDA. 
Um livro que compõe uma grande amostra de imagens, pensamentos e poesias que narram não só as experiências do autor na arte, mas seus aprendizados da Capoeira para vida! 
Um livro para todos, como descreve o editor: "um livro de filosofia da vida através da cultura popular". Imperdível!




domingo, 1 de maio de 2016

Uma tradição centenária!

Matéria do Jornal Lince retratando o Jongo de Tamandaré

O jongo é uma prática ritual que remonta ao tempo dos escravos africanos no Brasil. Praticado desde, pelo menos, o século XIX, conforme atestam registros históricos, temos sua presença ainda hoje em determinadas localidades da região sudeste brasileira (Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo). 

Neste artigo, iremos conhecer um pouco mais do jongo que é praticado no bairro Tamandaré, situado no Município de Guaratinguetá-SP, a 163 Km da capital de São Paulo e a 237Km da capital do Rio de Janeiro, fazendo divisa com os municípios de Pindamonhangaba, Potim, Aparecida, Lagoinha, Cunha, Lorena e Piquete, compondo o complexo do Vale do Paraíba Paulista. 

O bairro Tamandaré possui pouco mais de dez ruas cuja via principal é a Rua Tamandaré por onde passam, obrigatoriamente, todos aqueles que entram ou saem do bairro, não havendo outra entrada ou saída que não seja esta rua. Uma rua comprida que se inicia próximo ao terminal rodoviário de Guaratinguetá e se estende até próximo ao Bairro dos Motta (zona rural do município, também conhecida como “roça”), e sobre a qual atravessa a Via Dutra. Esta rua comporta a maior parte dos jongueiros do bairro, embora outros estejam localizados nas ruas menores. 

O citado Bairro dos Motta é importante, pois àquele lugar é atribuída a origem do jongo no Tamandaré que, na narrativa dos jongueiros, se deu através de negros migrantes. O casal de negros libertos Henrique Martins e Angelina Martins é tido na memória dos moradores do bairro como o casal que trouxe o jongo para Guaratinguetá há quase 150 anos atrás. Suas netas, Dona Mazé e Dona Fia, são quem contam a história . Versão que é endossada por outros moradores no bairro.

Contando a origem do jongo em Guaratinguetá, Dona Mazé diz que:

“Eles (seus avós) depois de libertados vieram e ganharam (uma imagem de) (...) São Pedro e meu avô comprou um sítio lá no Bairro dos Motta. Aí ele começou a fazer a festinha do jongo lá no sítio dele. Ele vinha aqui na Boa Vista , pegava todo mundo e levava pro sitio dele.

aí ele fazia a festinha lá, todo mundo ia, bebia lá, comia lá, ficavam lá. No outro dia é que vinham embora. Daí eles ficaram demais velhinhos né, vieram embora pra casa da minha mãe e do meu pai (na Rua Tamandaré) e faziam o jongo. Daí eles pediram, ‘_ Ah! Não deixa a festa morrer!’, né! ‘_ Enquanto existir uma pessoa da família, não deixa a festa morrer, nem que seja só a reza vocês fazem!’. Então nós pegamos e continuamos. Por enquanto, enquanto a gente tiver força e saúde nós vamos continuar com o jongo”.

A fala de Dona Mazé aponta o bairro dos Motta, a roça, como um espaço privilegiado da festa de jongo no passado. 

Não apenas o jongo, mas outras festas são mencionadas pelos jongueiros quando se referem àquele espaço:

“Meu pai mesmo, nunca foi de dançar muito jongo não. Ele gostava mesmo era de cana-verde que ele fazia lá na roça. Cana-verde é bom, rapaz! É que nem repente que a gente faz. E tinha uns dançadores bons de cana-verde viu, mas que hoje já morreram tudo. Eu era moleque quando ia com meu pai que morava na roça. Porque eu nasci aqui na Tamandaré, mas meu pai morava na roça e quando eu ia lá, rapaz, eu via eles na cana-verde e eu aprendi”. 

A festa de Santa Cruz , tão expressiva no interior paulista, também se faz presente na memória dos jongueiros do Tamandaré. Como a cana-verde e o jongo, a festa de Santa Cruz, segundo os jongueiros, se localizava na roça.


segunda-feira, 18 de abril de 2016

TODOS SOMOS UM



Em ânsia de libertação, ambição de dias melhores é tempo de união! Todos somos um chegou em boa hora e agora não retrocederemos! Vamos em frente nesta árdua batalha pelo reconhecimento e consequentemente supriremos as reais necessidades de todo um segmento! Viva a capoeira porque ela é viva e enquanto viva estiver haverá esperança de conquistas! Juntos, unidos e aliados temos tanta força que nem nós sabemos, descobriremos um dia e a partir daí invencíveis seremos! A fé é nossa guia e nos direciona a bons caminhos! Façamos história e no futuro a memória a nós retornará!


quinta-feira, 10 de março de 2016

Roda de Capoeira: diferentes visões


O que define uma roda de capoeira é a sua pluralidade de interpretações e  concepções direcionada pelo ritual, ancestralidade e tradições transmitidas de gerações para gerações.

O círculo que forma a roda é conhecido na cultura africana e indígena como uma corrente de energia cíclica que circunda todo o ambiente da manifestação, e entre a diversidade de diálogos é capaz de transcender nossos entendimentos e limites.

Magia pura! Encantamento, felicidade e aprendizado constante... A roda ensina do mais novo ao mais experiente, lições de vida e evolução! Puro sentimento, deixar-se levar pelo som dos instrumentos e pela cantoria repetitiva que é capaz de levar o indivíduo ao transe!

Berimbaus que conversam entre si, pandeiros e percussão trocam informações e complementam a mensagem da bateria aos jogadores, que além de conversarem corporalmente entre si, respondem ao som da musicalidade que leva o espectador a bater palmas e cantar. Tudo isso conectado em uma só energia!

O mais interessante é que cada Roda de capoeira têm sua própria característica, que muda de região em região, de mestre para mestre, linhagem para linhagem... Entre as tantas verdades, cada roda ensina, diferentes visões, mas que geralmente levam para um mesmo caminho! É como a casa, o lar, de um ancião. Tem suas rotinas, suas regras e um bom visitante precisa interpretar e saber respeitar o espaço do ancião.

Não há "juízes" mas todos julgam, e de cada lugar da roda a visão do movimento e do diálogo entre os jogadores é diferente... O que você vê de um "lado" da roda, outro colega talvez não veja do "lado" dele, o que torna o jogo subjetivo dentro de uma grande objetividade e eficiência camuflada na dança e ginga dos corpos maliciosos e audazes.

Indefinível portanto! É sentir, viver, participar para saber o que significa a Roda e que a roda de hoje será diferente da roda de amanhã...


domingo, 6 de março de 2016

O Tambú e o Candongueiro!

Falar de tambores não é fácil. Conotações naturais e sobrenaturais ilustram as pesquisas teóricas e de campo para engrandecer o conhecimento do leitor.

Ligados e conectados aos rituais que se relacionam às danças, à música, à literatura e à religiosidade a força dos batuques está presente como elemento fundamental, chegando a exprimir a identidade profunda de uma música intimamente ligada ou de uma linguagem falada.


"Chama sinhá candongueiro chama sinhá
Chama sinhá candongueiro chama sinhá
Pode me chamar que eu vou
Pode me chamar que eu vou"

"O repicar do Candongueiro atravessa os vales, avisando aos jongueiros das fazendas distantes que é noite de Jongo." Jongos do Brasil


O Jongo é desenvolvido ao som dos tambores, o Tambú, ou caxambu (som grave) e o Candongueiro (som agudo). Tambores primitivos feitos de tronco escavado de árvore e couro animal pregado na madeira. De origem Banto conhecidos como "NGOMA" em Angola e no Brasil, aquecidos e afinados no calor de uma fogueira onde o fogo "estica" a péle e afina naturalmente o tambor. Também utiliza-se barricas de vinho como estrutura dos tambores.


Fabricados pelas comunidades quilombolas de maneira artesanal, carregam em si um grande significado de vínculo com os ancestrais. Na religiosidade africana o tambor é uma entidade que faz a ligação e a comunicação entre os planos espirituais e terreno. No Jongo cada tambor é considerado como um integrante da roda por representar a ligação entre a comunidade e a ancestralidade jongueira.

No início da festa os jongueiros saúdam os tambores e pedem a benção aos "mais velhos" tocando no couro em sinal de respeito e ao final repete em sinal de gratidão.

"Oh Tambú, meu tambú
quando eu for me embora para bem longe

quando eu for me embora para bem longe
eu levo comigo
esse som que bate forte no meu coração"



sábado, 13 de fevereiro de 2016

Um momento para TODOS!

Em um universo em que o brilho muitas vezes ficou restrito ao individualismo, nos trouxe até aqui a figura de poucos heróis para a história atual, exaltando uma ou algumas qualidades pessoais que tornaram esses heróis espelhos à novas gerações.

A capoeira é individual?

Atualmente os caminhos têm se demonstrado contraditórios à capoeira de outrora e o coletivo vem conquistando um espaço imenso nas perspectivas futuras. Somos uma classe, um conjunto e organizados teremos representatividade forte e eficiente dentro de um sistema de poderes, burocracias e leis.

Já não somos tão bobos e alienados ao nosso vício de apenas "jogar" capoeira, estudamos, aprendemos novos caminhos e manobras, nos especializamos em outros departamentos e segmentos sociais. Estamos em um forte processo de união e a "deficiência" de um será suprida pela "excelência" de outro, a "ignorância" de um pela "inteligência" de outro e nesta troca de figurinhas, seremos completos e fiéis aos nossos princípios.

Quando comecei, ser reconhecido dentro do grupo já era uma vitória, afinal o grupo era quase fechado e muito grande, mas não era a filosofia de um único grupo e sim, uma tendência filosófica de levar a capoeira! Um egocentrismo e um egoísmo exagerado onde "aqui" é certo e "lá" é errado, o que você aprende "aqui" é segredo, intocável, é "nosso"! Hoje não, que bom que existe evolução e posso perceber que amigos não necessariamente vestem a mesma camisa e podem se encontrar para trocar qualquer tipo de "segredo", que já não é um segredo, um caminho, uma ajuda, um auxílio, seja ele físico, técnico, rítmico ou burocrático.

O coletivo têm força e neste processo de sobrevivência, união, não só faz a força, como também, vence batalhas! É um momento especial... Sejamos humildes, pacientes e flexíveis para evoluir no conjunto. Vamos parar de andar em círculos e bater cabeça, pois é tempo de um capoeirista não concorrer com outro capoeirista e sim dar as mãos para vencer o sistema nem que para vencê-lo seja necessário ingressar dentro dele.

Inspirado no Movimento TODOS SOMOS UM
e na amizade com outros capoeiristas que deixam de lado sua vaidade pessoal para ajudar o próximo com projetos, empregos, indicações de trabalho, etc...

axé a toda CLASSE capoeirística.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Um conflito de denominações em um universo de contradições!

Não é uma crítica! É reflexão, pensamento e exposição para um coletivo de confusões (me insiro nele) encontrar um caminho...

Sempre ouviu-se que ou se é capoeira Angola ou capoeira Regional até que apareceu há aproximadamente duas ou três décadas, o termo "contemporânea". Termo este, que para muitos não pode ser classificado como um "estilo" de capoeira.

Muitos defendem a capoeira como um Todo, "capoeira é uma só", como dizia Mestre Canjiquinha e como desabrochou a capoeira em São Paulo, livre de paradigmas e preceitos. Seria mais simples assumir a capoeira como simplismente Capoeira?

Alguns angoleiros de fato, não aceitam essa pluralidade, defendem uma capoeira tradicional, com linhagem e ancestralidade. Por outro lado, "filhos" de Bimba, herdeiros da capoeira Regional quando vêem a capoeira atual que se denomina Regional contemporânea, afirmam com propriedades que passa longe da Regional tradicional de Mestre Bimba. 

Então se a capoeira que ganhou o mundo, que é a mais jogada atualmente, dentro desta pluralidade de expressões e "novos" rituais e tradições, como deve ser denominada, classificada ou rotulada, se não é Angola ou Regional?

Temos que retroceder? não aceitar evoluçõesPodemos evoluir e manter as tradições dos antigosDeve-se apenas escolher um de dois (02) caminhos e se engessar no tempo?

Particularmente acredito que muitas destas respostas não serão encontradas na roda de capoeira, ou nos livros de fundamentos e história e sim no próprio indivíduo capoeirista, quando ele deixar de criticar, julgar, desfazer e diminuir a escolha do outro e consequentemente admirar, respeitar, interagir e aprender com as diferenças apresentadas na tradição ou nas evoluções.

A partir daí voltaremos ao simples e natural, onde cada qual apresenta suas qualidades, ensinando ou aprendendo, se divertindo na "vitória ou na derrota" livre de uma competição para ver quem é maior ou melhor ou "dono da razão", e somente quem vai ganhar e estar à cima de tudo é a CAPOEIRA.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Umbigada e seus significados

O ato de dar a umbigada em grande parte das manifestações de origem africana é um dos movimentos mais tradicionais e característicos desta cultura rica e grandiosa que atravessou o oceano atlântico e chegou ao Brasil. É claro, sofreu grandes ou pequenas transformações, mas manteve toda uma essência e fundamentalismo do povo africano.

Chamada de Semba na lingua quimbundo dos negros bantos de Angola, a umbigada era efetivamente a regra, mas com o tempo, costumes e tradições locais substitui-se em determinados locais e determinadas dança,s a umbigada por gestos equivalentes, simulando a semba, como toque de perna, aceno de um lenço ou o próprio gesto mímico.


Neste Blog enfatizamos a beleza e as tradições do Jongo. Pode-se dizer que o Semba deu luz ao Jongo que por sua vez deu origem ao samba moderno. E realmente no jongo não preserva-se a umbigada de fato, mas o gesto representativo da umbigada. Talvez pelas pressões e influências da igreja católica na censura do toque na umbigada em conotação sexual.

Além do jongo pode-se destacar inúmeras danças afro brasileira de umbigada: Tambor de crioula, Punga, Cacuriá, Samba de roda, Coco, Lundu, Batuque...


Dentre estes exemplos reais e vivos de danças e manifestações afro, as umbigadas podem ser alternadas via regra, entre Homens e Mulheres ou simplesmente entre Mulheres. A umbigada entre homem e mulher remete à reorganização do universo. O umbigo é o nosso primeiro meio de comunicação com o universo, canal de alimentação entre filho e mãe. O umbigo é visto como o centro do corpo que se conecta com as energias de todo o universo.

O movimento da umbigada é uma troca de energia entre dois corpos. Expressam na dança e na gestualidade, cerimoniais de fertilidade e núpcias da região de Congo e Angola. Dentro da cultura Banto a umbigada celebra o momento único em gratidão ao dom da concepção.


Aos olhos do europeu, via-se uma conotação sexual, na qual, a separação entre sagrado e profano não existia. Na visão de matriz africana a sensualidade não é pecado! Por este motivo o batuque não acontecia de dia, somente sendo permitido pela noite, longe dos olhares das crianças, e após o fim da escravidão, somente fora dos centros urbanos, resistindo então, nos ambientes rurais.

A resistência desta rica cultura deve-se à força da ancestralidade e a todos que buscam, estudam e vivenciam dentro das comunidades especificas, toda e qualquer informação para ajudar a perpetuar o que as comunidades já o fazem transmitindo o saber de geração para geração.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Musicalidade na capoeira

Não existe capoeira sem música!
E para o corpo mover-se, seja em forma de dança, luta ou ambos, que seja música boa...


A capoeira é expressão, dialogo corporal, comunicação e gestualidade, e o ritmo é o principal condutor e mediador deste universo. A musicalidade, através da bateria, vai ordenar a cadência dos corpos e reger como o jogador deve se comportar.

Para um capoeirista experiente é fundamental que haja a conexão entre o ritmo da bateria e do canto com o momento na roda. A música emana energia, sentimento e informações que aquecem o corpo, o espírito e a alma do jogador...

Não há nada melhor do que se deixar levar pela boa musicalidade na roda de capoeira ou em qualquer outra manifestação. A bateria ensina o jogador, o berimbau da lições de fundamentos e o canto informa e narra a história que aconteceu, que está acontecendo ou está para acontecer!

"A capoeira, através do ritmo, é capaz de colocar passado e futuro no momento presente."


A harmonia do ritmo e a conexão da bateria com todos os elementos que compõe uma roda de capoeira são capazes de elevar a capoeira a outro plano, dentro de uma fé livre e individual, através da ligação com a ancestralidade.

Atualmente o capoeirista que não estuda a musicalidade na capoeira fica incompleto para transmitir a verdadeira essência de uma roda, e dentro das limitações individuais é fundamental conhecer, saber e propagar a importância da música na capoeira.


* Esta postagem foi retirada do livro (ainda não publicado) de minha autoria (Antonio Carlos C. Cunha - Cacá), CAPOEIRA - A ARTE DE CELEBRAR A VIDA!

domingo, 17 de janeiro de 2016

O mau do "ser" humano.

Correndo um pouco pela margem do centro da roda de capoeira mas ao mesmo tempo mergulhando de cabeça no miolo do problema do capoeirista, me arrisco escrever esta postagem para uma breve reflexão de poucos...

Ao estudar a personalidade da vida humana, Freud constatou que quando o EGO é pressionado pelas forças contrárias insistentes trava-se uma luta interna que reflete no comportamento e nas atitudes. O EGO deve tentar retardar os ímpetos agressivos e manipular a realidade externa para aliviar a tensão resultante. Quando o EGO é pressionado demais, o resultado é a condição definida por Freud como ansiedade.

Atualmente aponta-se a Vaidade, o Orgulho, a Prepotência e a Arrogância como maus do "ser" humano moderno. A mania de querer "ser", de pensar em si, como o Mestre da Razão ou Dono do Saber torna o indivíduo Egoísta. E são as atitudes que vão aproximar ou afastar pessoas e as tornarem especiais ou simplesmente estatística de mais um "fútil" na multidão.

Se as ações são livre arbítrio dos homens, parece que as escolhas não tem sido felizes, afinal quantas pessoas especiais você conhece e são exemplos de vida. Cada vez mais raro encontrar pessoas confiáveis, verdadeiras e desprovidas destes maus referidos anteriormente.

Vamos ouvir o chamado do berimbau e entrar na "roda". O capoeirista é uma artista e seu palco é a roda e no centro dela é onde as luzes se acendem sob os olhares deste universo regido pelo berimbau. É natural o ganho de confiança alimentando a auto estima e valorizando o EGO. Inúmeras qualidades que transformam realmente um indivíduo praticante de capoeira.

Talvez aí é que resida a causa do problema! A Capoeira dá muito ao capoeirista, mas nem sempre o capoeirista (ser humano) está preparado para tanto receber e se perde na administração de seu comportamento. A desconfiança natural acrescida da desconfiança exagerada de um capoeirista torna a relação superficial, sem as entregas e revelações necessárias.

Hoje a grande luta do capoeirista é interna, ou entre nós (um contra o outro), afastando a relação de conjunto e unidade que são a verdadeira força de um coletivo compacto e consistente. Sem confiança não há relação, sem reflexão não há entendimento e sem respeito não há paz... Elementos de força presentes no EGO de um "ser" evolutivo. Daí a real necessidade de nos desprendermos da Vaidade, do Orgulho, da Prepotência e da Arrogância que foi construída dentro de nós. É uma limpeza pessoal que a consciência de cada um será conivente para o sucesso de todos.

Vamos começar a faxina hoje para ter um lar saudável amanhã!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O poder de um ponto no Jongo

Para quem não têm conhecimento o ponto do Jongo é o canto ou a cantiga. A letra musical que carrega uma mensagem direta ou subjetiva para ser compreendida ou desvendada.

Algumas letras contém perguntas ou afirmações que até hoje estão sem respostas, tornando-se um mistério para jongueiros e simpatizantes do Jongo.

O Jongo é transmitido de geração para geração e como segmento da cultura de origem africana a base desta transmissão é feito pela oralidade. E o tempo pode modificar a interpretação da mensagem original, por isso a importância em ouvir os mais velhos, detentores do saber.


Como já foi dito anteriormente em outra postagem, somente alguém com muita experiência é capaz de decifrar os significados de determinados pontos com linguagem cifrada, um jogo de desafio com pergunta e resposta. Os mais antigos contam que quando algum jongueiro ficava sem responder um ponto cifrado ele ficava enfeitiçado e poderia "apagar" por instantes ou até mesmo vir à óbito.

Através dos pontos, os escravos negros se comunicavam para protestar, zombar dos patrões, combinar uma fuga, saudar ancestrais e entidades e louvar suas raízes.

Da mesma forma que a capoeira carrega mensagens fortes no significado da letra de suas cantigas o Jongo carrega a força e o poder do ponto cantado em roda. É fundamental portanto, conhecer o português e termos em dialeto africano de origem banto e quimbundo.


Veja alguns exemplos de pontos com seus significados:

Papai não quer casca de coco no terreiro
Papai não quer casca de coco no terreiro
porque me faz lembrar
me faz lembrar do tempo do cativeiro

Este ponto adverte a presença de alguém indesejado na roda.

Bate, bate coração, pode bater
Não treme não, ai coração para de tremer
Bate, bate coração,
que a nossa vida já têm solução, Graças a DEUS!

Este ponto celebra a superação de uma dificuldade, um ponto de gratidão à força maior.

Eu plantei café de meia, foi nascer canavial
café de meia não se dá sinhá moça
deixa a angoma melhorar...

É um ponto de preto velho pedindo para parar a demanda ou desfazer uma parceria na intenção de melhorar as coisas no futuro.

Deixa cantar o bem-te-vi
Deixa cantar o bem-te-vi
bem-te-vi canta cedinho a tarde toda quem canta é a juriti

Este ponto pede licença para que as crianças possam cantar na roda.

Clareou, clareou
Clareou um novo dia
Clareou, clareou
Clareou um novo dia
Galo cantou foi lá n'Angola
anunciando um novo dia

Este ponto é um ponto de saudação ao rei Sol e refere-se ao final da roda.


Desta forma encerra-se mais uma postagem em homenagem ao querido Jongo do Brasil. Nossa cultura é linda, vamos valorizar nossas raízes e todos os representantes de fato de toda essa beleza, os mestres jongueiros e suas famílias tradicionais das comunidades quilombolas.

Saravá Jongueiro velho!

fonte bibliográfica: O Jongo do Tamandaré, acervo cachuera. 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Mandinga

"Quem não pode com mandinga não carrega patuá..."

Há muita confusão quando fala-se em mandinga ou mandingueiro. É fundamental estudo, pesquisas e bom entendimento quando usamos alguns termos dentro ou fora da capoeira.

Mandinga pode ter diferentes interpretações, cabe o bom capoeira saber utiliza-la no momento apropriado!

No Brasil colonial, Mandinga era um grupo\nação de origem africana que praticava o islamismo como religião. Para quem não sabe o islamismo nasceu da Arábia Saudita e logo se difundiu para a África tornando-se atualmente a religião mais praticada no continente africano.


Os mandingas carregavam, em forma de colar pendurado no pescoço, um patuá feito de couro com inscrições de trechos do alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos. Dentro deste entranhado de couro os mandingas guardavam objetos sagrados, como osso humano, balas de chumbo e moedas de prata. Eram defumados com incensos e ervas e enterrava-se à meia noite em uma encruzilhada.


A função deste patuá era evidentemente espiritual com fundamentalismo na cura e proteção. Era uma medicina mágica com implicações corporais e espirituais. Na falta de médicos, os curandeiros e feiticeiros criavam o seu próprio modo de precaver ou curar  de doenças e maus da época.


Muitas vezes, os Mandingas eram escolhidos para funções de confiança, como capitães do mato ou feitores, pelo fato de serem considerados mais inteligentes ou mais instruídos que outros grupos. Eram os únicos conhecedores da escrita, capacitados para interpretar gestos e palavras islâmicas e de contrapartida aquele que não soubesse seria capturado como foragido.


Os mandingas eram ricos, um povo que controlava mais de 400 (quatrocentas) tribos no império Mali. Feiticeiros negros conhecidos como calundeiros, curandeiros e feiticeiros. Mas foi pela denominação de mandingueiros que chegaram até a capoeira.

Alguns capoeiristas tratam o termo mandingueiro àquele que têm malícia, experiência e audácia dentro do jogo da capoeira. Pode representar a habilidade em surpreender um adversário através da gestualidade. Uma esperteza apreciada e admirada pelos amantes da arte.


A gestualidade somada à experiência e os efeitos na eficiência de alcançar os objetivos dentro do jogo, somado ou não ao lado espiritual do indivíduo, tornam o capoeirista um mandingueiro qualificado.


"Bota mandinga no jogo, bota que eu quero aprender,
bota mandinga no jogo, que eu jogo com você..."

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O berimbau!

É hora de falar, saudar e homenagear o berimbau! Também conhecido por, urucungo, xitende, rucumbo, rucungo, aricongo, hungu, m'bolumbumba, macungo, matumbo, bucumbunga, marimbau, gobo ou bucumbumba, tem origem no continente africano por volta de 1.500 a.c.


Trazido ao Brasil na época do Brasil colônia pelos negros escravizados na África ocidental ganhou popularidade e espaço nas rodas de capoeira passando a ser o instrumento regente da roda. Sabe-se que no inicio, quando a capoeira começou a ser formada e desenvolvida o berimbau não fazia parte da manifestação, apenas os instrumentos de couro.

Em alguns países e nações da Africa e em Cuba o berimbau têm a função espiritual de fazer um elo de comunicação entre os homens de carne e osso com os seus ancestrais. Uma viagem ao passado e a uma fascinante reconstituição histórica, uma "viagem" no tempo!


Nota-se a força que o berimbau possui! E foi aos poucos entrando na capoeira e hoje é reverenciado, cantado e louvado no mundo todo.

Provavelmente chegou despretensiosamente nas "rodas" devido aos vendedores ambulantes das feiras livres, onde comercializava galinhas, ovos e outras mercadorias utilizando do berimbau para fazer barulho e chamar atenção nas vendas. E em algum momento aquele som melancólico de intensa vibração passou a fazer parte da musicalidade em construção da capoeira.


Atualmente o berimbau, após uma série de evoluções na história, é composto pela verga (madeira apropriada, flexível, porém resistente), a cabaça (caixa de ressonância do som), o arame (geralmente extraído de um pneu de carro), uma baqueta, um dobrão (moeda antiga ou pedra) e um caxixi (chocalho típico feito de cipó e sementes que trataremos à diante).


Capoeiristas estudam exaustivamente cada dia, uma perfeita afinação, notas, efeitos sonoros, variações para evoluir nesta arte milenar que é tocar o berimbau, faze-lo chorar, como se diz na capoeira. Um instrumento mágico que ensina e remete o tocador ou até mesmo o ouvinte a uma jornada de volta à ancestralidade.

Viva o berimbau, o grande mestre da capoeira!


domingo, 3 de janeiro de 2016

Jongo

O Jongo será muito retratado neste blog devido a sua forte contribuição na resistência da cultura africana em terras brasileiras e junto à capoeira e outras manifestações ajudou a construir essa nossa identidade atual.

Esta postagem será um pequeno resumo frente a imensidão de informações que o Jongo carrega, portanto outras postagens retratando o Jongo serão escritas a diante.


O Jongo, ou Caxambu, é patrimônio cultural do Brasil, desenvolvido na região sudeste pelos negros bantos trazidos como escravos para trabalhar nas fazendas de café no Vale do Paraíba, interior dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Considerado por muitos como o "Pai" do Samba, foi uma das maiores contribuições dos negros para a cultura do Brasil influenciando na formação da música popular brasileira.


A demanda pelo trabalho e mão de obra ao trabalho nas grandes fazendas de cana de açúcar e café e na mineração intensificou a chegada de escravos das regiões de Angola, Congo, Benguela e Moçambique tornando o tráfico negreiro a maior atividade escravista da época e ao mesmo tempo o início da "construção" de nossa cultura afro-brasileira.


O Jongo é uma dança profana para divertimento e nos momentos de lazer os negros eram "autorizados" a praticarem suas batucadas e rituais e através destes momentos os negros cultuavam seus ancestrais, deuses e divindades.

Os antigos comandavam a roda e os jovens observavam a distância. Era assim antigamente, disciplina que exigia dedicação e respeito para ensinar os segredos e "mirongas" do Jongo e os fundamentos dos seus pontos (cântigas). Os pontos têm uma linguagem complexa, metafórica e subjetiva e é fundamental experiência e vivência para decifrar seus significados.


Era através dos pontos que muitas vezes os negros escravos combinavam uma fulga ou rebelião, sem que o feitor percebesse o poder das palavras cantadas naquele ponto. Um dialogo com uma profunda mensagem no seu significado.

Os pontos podem ser:

- Abertura ou licença para abrir uma roda de Jongo,
- Louvação para saudar o local, um ancestral ou o dono da casa,
- Visaria para alegrar a roda e divertir a comunidade,
- Encante, na intenção de enfeitiçar o outro pelo ponto,
- Demanda, para a briga ou desafio entre rivais para "disputar" sabedoria,
- Encerramento ou despedida para saudar a chegada do dia e encerrar a festa.


Encerra-se aqui esta primeira postagem sobre o Jongo, mas como foi dito anteriormente, o Jongo será juntamente com a Capoeira protagonista deste blog. Aguarde as próximas postagens...

Vamos Saravar os antigos, respeitar a sabedoria e aprender a aprender, porque nunca é tarde ou cedo demais para treinar sabedoria!

ase

Bibliografia:

- Jongos do Brasil
- O Jongo do Tamandaré (Guaratinguetá), edições: acervo cachuera